20.4.09

Imperdíveis



Ilustrazione

Faço um poema e nasce uma cidade
invento o conteúdo geográfico das coisas.
Escrevo um nome e nasce Dublin
porque Dublin escrevi.
Se onde ponho um traço nasce uma via de ferro
então é um comboio em direcção a Roma.
Faço uma cidade e vejo-me um néon
ponho um anúncio e nasce cigarreta.
O italiano compõe o soar da palavra
eu dou uma entoação ao segredo do fim.
Se há um horizonte para divulgar o Sol
há uma expectação para divulgar o coração.
Se há um moinho para os lados de Perpignan
há um Daudet a repousar o sol numa cadeira.
Se há Avignon, uma festa, a França, a Península Itálica,
Burgos e todas as catedrais espanholas
há uma cidade cheia de Sol a compor a direcção.
Se o mar fica no fim
Lisboa fica ao pé de Lisboa fica súbito
como se o Tejo fosse um braço decepado
e um cacilheiro total o pano de uma bandeira.
( ... )
How Ridiculous They Are

Os intelectuais soen muy ben zurrar
na literatura na poesia no café
Ai how ridiculous ridiculous they are
é verdade ou não, Lord Byron, é ou não é?
Nas pastelarias nas igrejas no café
ai sobretudo sobretudo no café
é verdade ou não é, Lord Byron, é verdade ou não é?
Ai how ridiculous they are
zurrar o sabem no da fror
tempo em que as burras muito hão-de ganhar
como é de D. Dinis (com modificações) o teor

António Gancho, in O ar da manhã, Assírio & Alvim, 1995

1 comentário:

Marta disse...

«um comboio em direcção a Roma»

é já um imenso poema!


Gostei. Muito.