24.4.09

E agora, Mafaldinha?


Quino decidiu suspender temporariamente a sua presença nas páginas de Viva, o suplemento do diário argentino Clarín. São mais de 50 anos de carreira como cartoonista, desenhador de imprensa e autor de banda desenhada que sofreram uma interrupção “temporal”. O criador de Mafalda justifica esta decisão de não continuar a repetir os seus trabalhos por considerar que isso seria uma falta de respeito não apenas aos leitores, mas também a uma longa carreira.

Pois, a estética sem a ética... não dá obra digna de nome.
Por mim, continuo à espera, pois, segundo Quino, a repetição de cartoons não é forçosamente uma coisa negativa:
Foi interessante voltar a vê-los pela assombrosa actualidade que apresentam muitos deles, o que prova que tantos problemas que hoje nos preocupam continuam a repetir-se graças ao talento que a sociedade tem em reciclar os seus erros.
E acrescenta:
Há temas sobre os quais é impossível trabalhar. Eu, pelo menos, não consigo. Por exemplo, mantenho uma velha discussão com a Amnistia Internacional, que me convidou a participar em campanhas. Ora, eu acho que um desenhador de humor não pode dizer nada com o seu trabalho sobre os presos políticos, a tortura, a violação dos direitos humanos. E isso, porque as pessoas serão levadas a concluir que, afinal, essas coisas talvez não sejam assim tão terríveis como as pintam. Acontece que ficam surpreendidos quando me recuso a colaborar com o que consideram uma causa tão nobre. Não posso, há uma fronteira que não quero ultrapassar. Veja-se o caso da Argentina, o meu país: desapareceu muita gente e houve tortura sistemática de presos políticos. Não é possível fazer uma piada sobre a condição do presidiário...
No rescaldo dos atentados de 11 de Setembro em Nova Iorque, Quino identificava explicitamente essa “fronteira”, sugerindo de algum modo aquilo que agora se tornou realidade:
Depois dos atentados, é como se vivessemos todos em Israel ou no País Basco. Felizmente para mim, deixei o meu trabalho bastante adiantado antes de vir. Mas, mais tarde ou mais cedo, vou ter de continuar a fazer cartoons. E quando isso acontecer, estou certo de que alguma coisa mudará, embora não saiba quando e como é que isso vai acontecer.

1 comentário:

Marta disse...

Sou absolutamente fã!
Do criador e da criatura! Mafalada. Sempre!

[E até confessava mais. Mas é melhor não. Depois um dia conto-te, só a ti :)]

beijinhos