27.4.09

e despedir-se de tudo...


Quando alguém parte, tem de deitar
ao mar o chapéu com as conchas
apanhadas ao longo do Verão,
e ir-se com o cabelo ao vento,
tem de lançar ao mar
a mesa que pôs para o seu amor,
tem de deitar ao mar
o resto do vinho que ficou no copo,
tem de dar o seu pão aos peixes
e misturar no mar uma gota de sangue,
tem de espetar bem a faca nas ondas
e afundar o sapato
coração, âncora e cruz,
e ir-se com o cabelo ao vento!
Depois, regressará.
Quando?
Não perguntes.

Ingeborg Bachmann, O Tempo Aprazado (tradução de Judite Berkemeier e João Barrento), Assírio & Alvim, 1992

Foto de Malina

3 comentários:

Marta disse...

...e isto entra-me tudo no cOraçÂO, assim, em diferentes tamanhos...
Malina,

poeta fotógrafa :) linda.

beijos, muitos

Malina disse...

sempre gentil, sempre gentil, esta "trintinha" desconstrucionista:-)
beijinho

Marta disse...

não sou gentil! sou apenas como sinto.
desconstrucionista, sim. "trintinha", não.
sou dos outros. dos quase "enta" :)

beijinho e obrigada
por refutar Prof. Funes :) tão bem!

soube-me a pouco!